top of page

O apartheid social da mulher que ousa manifestar seus incômodos.


Preciso organizar os incômodos que, ao serem mencionados por uma mulher, tornam-se sempre dilacerantes.

Como psicóloga, estudo a importância da comunicação como ferramenta de cura. A fala realmente possui um potencial transformador, capaz de concretizar sentimentos, sonhos, desejos e de dar voz à nossa essência! Cheguei ao ponto em que preciso organizar o seguinte: sou uma mulher que compreende e nomeia toda a violência imposta por essa estrutura colonial e patriarcal, não apenas sobre mim, mas sobre todas nós, MULHERES!


Uma gaiola vermelha, dentro uma imagem representando uma mulher  em volta e encima uma sombra representando uma figura de opressão e poder mantendo o peso sobre a goiola
Imagem da artista: @junotatu

Principalmente no que tange ao silenciamento, na qual opera de forma massacrante em tantos níveis que se torna até difícil encontrar palavras para dimensionar o quão violento é expressar nossos incômodos e o quanto somos reviolentadas cada vez que tentamos.



Quando nossa vivência de violência explícita é questionada, ouvimos coisas como "essa gosta de apanhar" ou "com essa roupa, estava querendo o quê?".


Imagine, então, a dificuldade de comunicar a violência simbólica, aquela violência disfarçada que se enraíza na base da estrutura da liberdade. Esta é a que mais me fere atualmente, pois para nós, mulheres, a liberdade tem um alto custo. Custa nossas vidas!

Homens que se consideram bons acreditam que o simples fato de não odiarem mulheres os tornam feministas.


Vale ressaltar que, estruturalmente falando, todos os homens são machistas e enquanto mulheres vítimas desse sistema aniquilador, também reproduzem o machismo.

Isso precisa ficar claro: o machismo é uma das estruturas mais antigas que existem e, como tal, opera com diversos tentáculos. Diante disso, voltemos a falar de liberdade e privilégio.


Durante minha adolescência, eu costumava murmurar a seguinte frase: "Se eu não fosse mulher, venderia meu carro, compraria uma mochila e cairia na estrada".

Esse medo de viver plenamente não se limita apenas ao receio de sair às ruas, que por si só já é limitador, mas também inclui o medo de errar em qualquer manifestação de atrapalhar.


Vejo mulheres incríveis e com tanto potencial, sempre se desculpando, levando anos para conseguir expressar com coragem a sua melhor versão para o mundo.

Em paralelo a isso, homens medíocres avançam como um trator, sem nenhuma reflexão sobre a liberdade e o privilégio que possuem!

Nos dar conta de tudo isso é difícil. A liberdade deles é extremamente violenta para nós, já que podemos perder nossa vida física e simbólica na tentativa de sermos livres.


Sendo assim, pontuar esses atravessamentos estruturais nos faz sofrer represálias. “Exagerada", "histérica", "mal-amada", "imatura"... são apenas algumas palavras que representam o quanto não temos espaço para expressar o que nos machuca.

Outro ponto ao qual quero dar voz é a solidão da mulher que escolhe parar de agradar.


Eu não vou maternar homens; quero que eles parem de achar que o mundo lhes pertence e abram espaço para que as mulheres possam se desenvolver, que reconheçam o privilégio de poder existir sem o medo de morrer todos os dias e que façam análises profundas dos espaços coletivos que frequentam, orgulhando-se dos coletivos de mulheres que estão conseguindo ter autonomia de realização e força para construir território.

A exclusão é uma resposta a toda exclusão que vivenciamos desde criança e que nos limita, sobretudo simbolicamente.





Comentarios


bottom of page