Preciso organizar os incômodos que, ao serem mencionados por uma mulher, tornam-se sempre dilacerantes.
Como psicóloga, estudo a importância da comunicação como ferramenta de cura. A fala realmente possui um potencial transformador, capaz de concretizar sentimentos, sonhos, desejos e de dar voz à nossa essência! Cheguei ao ponto em que preciso organizar o seguinte: sou uma mulher que compreende e nomeia toda a violência imposta por essa estrutura colonial e patriarcal, não apenas sobre mim, mas sobre todas nós, MULHERES!
Principalmente no que tange ao silenciamento, na qual opera de forma massacrante em tantos níveis que se torna até difícil encontrar palavras para dimensionar o quão violento é expressar nossos incômodos e o quanto somos reviolentadas cada vez que tentamos.
Quando nossa vivência de violência explícita é questionada, ouvimos coisas como "essa gosta de apanhar" ou "com essa roupa, estava querendo o quê?".
Imagine, então, a dificuldade de comunicar a violência simbólica, aquela violência disfarçada que se enraíza na base da estrutura da liberdade. Esta é a que mais me fere atualmente, pois para nós, mulheres, a liberdade tem um alto custo. Custa nossas vidas!
Homens que se consideram bons acreditam que o simples fato de não odiarem mulheres os tornam feministas.
Vale ressaltar que, estruturalmente falando, todos os homens são machistas e enquanto mulheres vítimas desse sistema aniquilador, também reproduzem o machismo.
Isso precisa ficar claro: o machismo é uma das estruturas mais antigas que existem e, como tal, opera com diversos tentáculos. Diante disso, voltemos a falar de liberdade e privilégio.
Durante minha adolescência, eu costumava murmurar a seguinte frase: "Se eu não fosse mulher, venderia meu carro, compraria uma mochila e cairia na estrada".
Esse medo de viver plenamente não se limita apenas ao receio de sair às ruas, que por si só já é limitador, mas também inclui o medo de errar em qualquer manifestação de atrapalhar.
Vejo mulheres incríveis e com tanto potencial, sempre se desculpando, levando anos para conseguir expressar com coragem a sua melhor versão para o mundo.
Em paralelo a isso, homens medíocres avançam como um trator, sem nenhuma reflexão sobre a liberdade e o privilégio que possuem!
Nos dar conta de tudo isso é difícil. A liberdade deles é extremamente violenta para nós, já que podemos perder nossa vida física e simbólica na tentativa de sermos livres.
Sendo assim, pontuar esses atravessamentos estruturais nos faz sofrer represálias. “Exagerada", "histérica", "mal-amada", "imatura"... são apenas algumas palavras que representam o quanto não temos espaço para expressar o que nos machuca.
Outro ponto ao qual quero dar voz é a solidão da mulher que escolhe parar de agradar.
Eu não vou maternar homens; quero que eles parem de achar que o mundo lhes pertence e abram espaço para que as mulheres possam se desenvolver, que reconheçam o privilégio de poder existir sem o medo de morrer todos os dias e que façam análises profundas dos espaços coletivos que frequentam, orgulhando-se dos coletivos de mulheres que estão conseguindo ter autonomia de realização e força para construir território.
A exclusão é uma resposta a toda exclusão que vivenciamos desde criança e que nos limita, sobretudo simbolicamente.
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